segunda-feira, 4 de julho de 2022

Uma questão de enzimas.

6 anos e 8 meses sem dar as caras por aqui. 

Se tenho novidade? Claro. Então vamos retomar. Nas últimas postagens falei de uma crise semanal de vômito e diarreia e dos novos medicamentos  que passei a usar pra aliviar um pouco meu sofrimento. Porém, parece que esqueci de mencionar um, o dorflex, que depois substituí pelo Miorrelax, alternando com o nevralgex, ambos relaxantes musculares.

Quem vem seguindo minhas postagens sabe que a tal crise sempre começava com uma cefaleia, uma dorzinha maldita acima do olho esquerdo. Quanto ela pintava pela manhã, meu dia estava perdido. Um belo dia, meio que por acaso, experimentei tomar um comprimido de dorflex junto com o café da manhã. Como é o tipo de medicamento que meu estômago não aceita quando tomo antes ou após as refeições, passei a tomar no meio do café. Foi tiro e queda. A cefaleia fez as malas e nunca mais tive notícias dela. E pra minha alegria, levou a tal crise semanal na bagagem. Mas depois, vocês já sabem, surgiu a tal dor abdominal que me transformou em atleta da madrugada e visitante assíduo de pronto-socorro.

Mas onde está a novidade? 

Pois é, a novidade é que depois de uns 3 anos tomando o medicamento Codaten para a tal dor dos infernos, fiz outra descoberta. Essa então de descolar o rego da bunda, como diz o Chico da Tiana, do humorístico Reclamação do Dia. Vocês devem se lembrar do caminhão de exames que fiz na tentativa, sem sucesso, de descobrir a causa da referida dor. Pois bem, um belo dia, apareceu uma inflamação no final do intestino, lembrando uma hemorroida. Fui a um proctologista e ele diagnosticou como sendo uma tal de papilite. Enquanto ele me receitava antibiótico e anti-inflamatório para resolver o problema, eu comentei sobre a dor abdominal e falei de todos os exames que fiz, as várias endoscopias, os vários ultrassons etc. Ele então me sugeriu um exame de intolerância à lactose. Eu não dei muita bola, mas o que é um peido pra quem já está cagado? Um exame a mais não ia me matar, não é mesmo? Fiz o tal exame. Deu positivo. Ele então me receitou a enzima lactase, que deveria ser tomada uns 15 minutos antes de qualquer refeição que contivesse produtos derivados do leite.

 Eu comprei uma caixinha da tal enzima e tomei alguns comprimidos, mas como não vi muita praticidade em ficar tomando aquilo, deixei de lado e segui minha rotina de tomar meus remedinhos que tinham acabado com as crises gastrointestinais e aliviavam bem a dor abdominal. Eu tomava Miorrelax no café da manhã, naproxeno (analgésico e anti-inflamatório à tarde) e o Codaten antes do jantar, lá pelas 8 e meia, 9 da noite. Eu janto tarde pra burro. Acho que já expliquei aqui porque mudei meus horários de refeições. O problema é que nenhum desses medicamentos atacavam a causa do problema, o que provocava o famoso efeito rebote.

Como o Codaten é um medicamento vendido apenas com receita especial, eu fui ficando aborrecido com o fato de ter que recorrer a um médico pra pegar receita toda vez que o danado acabava. Um saco! Além disso, era um questionamento constante: “Mas você ainda tá tomando o Codaten? Vai destruir seu fígado!”. É que o Codaten tem na sua fórmula o fosfato de codeína e o diclofenaco, esse último declarado inimigo número 1 do fígado e dos rins. E um dia, após tomar o Codaten, passei mal e fui parar no Pronto-Socorro. Acho até que não foi por causa do medicamento, mas sim por conta de pressão alta. Mas com o susto, eu então passei a tomar o Codein 30 mg, que além da dose menor de codeína, não continha diclofenaco.

Fui seguindo assim minha vida, até que um dia surge a tal da Covid-19, e eu, é claro, peguei o troço. Passei doze dias com diarreia. Aí a coisa bagunçou. A doença afetou meu metabolismo, e medicamentos que não me faziam mal nenhum, viraram uma tormenta. Até o relaxante muscular virou problema.

 Foi aí que, num belo dia, assim, do nada, me lembrei da tal enzima lactase. Pensei: se todo medicamento agora vai me foder, bora fazer uma experiência com a tal enzima. Fui na farmácia e comprei uma com a dosagem de 10.000 FCCs. Tomei por uns 5 dias e, gente, eu juro por tudo que é mais sagrado, a dor abdominal foi diminuindo gradualmente. Uns 7 dias depois, desapareceu por completo. Isso mesmo. Tive um probleminha com a dosagem da lactase, acho que por conta da hipoglicemia. Por quê? Como a lactase faz o organismo absorver a lactose e a mesma se transforma em glicose, acho que isso passou a interferir na glicemia, provocando alguns efeitos colaterais indesejáveis. Mas como vi que a enzima estava funcionando para a dor, fui à farmácia e comprei a Lactosil, agora com 4.000 FCCs, menos da metade da dosagem inicial. Acertei na mosca. Com apenas um comprimido ao dia, a dor desapareceu e os efeitos colaterais da lactase também. É claro que, vez ou outra, quando exagero no pão de queijo, margarina ou manteiga de leite, a enzima não dá conta e a dor volta, mas nunca naquela intensidade de antes. Aí eu tomo o Codein e tá resolvido. Mas isso só muito de vez em quando mesmo.

Resumindo: hoje estou livre das crises gastrointestinais e da dor abdominal e devo isso à Lactosil (enzima lactase) em combinação com outros medicamentos que uso para acidez e os gases. São eles: Prazol em jejum, medicação manipulada. Um composto, também manipulado, contendo Cimetidina, Dimeticone e Domperidona antes do jantar. Esporadicamente, tomo Miorrelax e Codein para dor e Naxotec (Naproxeno) para dor e inflamação. Vale destacar a ação eficiente da Dimeticone na liberação dos gases, o que é importante porque o uso da lactase libera muitos gases.

Conclusão a que chego: todo o inferno que percorri tinha como causa a intolerância à lactose. E aí vejo que todos os males do meu organismo se resumem a enzimas. Sofro de hipoglicemia porque me falta a enzima que quebra o açúcar e padeço com a lactose porque falta a enzima que a processa no intestino. MAS E O REFLUXO? O refluxo, coitado, que foi tratado como vilão da história, está longe de ser protagonista. As verdadeiras protagonistas, tanto para o bem quanto para o mal, são as megeras das enzimas.

Sobre os gases, o que aprendi? Se o açúcar não é quebrado, ele fermenta no intestino. Fermentando, provoca gases, que por sua vez provocam dor, se não expelidos. A lactose não absorvida também fermenta e provoca gases, logo, as dores. Então vejo que a famigerada dor abdominal, que me custou centenas de noites mal dormidas, tinha como causa o excesso de gases acumulados no intestino.

segunda-feira, 30 de novembro de 2015

Atleta da madrugada

É como diz o velho ditado: “Nada é tão ruim que não possa piorar”.
Desde a última postagem, vinha eu tendo uma rotina até certo ponto confortável, controlando a azia e queimação com medicamentos e a hipoglicemia com dieta. Porém, de uns tempos pra cá passei a sentir uma dor terrível na região do abdômen. Fiz vários exames (endoscopia, colonoscopia, colangioressonância magnética, ultrassom) e foi detectada uma lama na vesícula. Porém, os dois médicos que consultei não puderam cravar que a dor seja fruto da tal lama.  

Mas como é a dor?
Geralmente ela começa como quem não quer nada e vai aumentando aos poucos até tomar conta de todo o abdômen e é aí que o filho chora e a mãe não vê. Fui parar em pronto-socorro ao menos 3 vezes porque os analgésicos mais comuns, à base de dipirona, ibuprofeno ou paracetamol, não dão conta da dor. Por conta disso, virei atleta da madrugada. É que a dor não cedia com os medicamentos e não tinha posição que me deixasse confortável: sentado doía, deitado também. O único jeito de suportar a dor era caminhando. Então passei a caminhar em volta de casa durante várias noites. O galo cantando no quintal do vizinho, às 3 da madrugada, e eu lá caminhando. Só lá pelas 5, 6 horas é que a dor cedia. O estranho é que a dor não tem um ponto de origem. Ora começa na parte inferior do abdômen, ora parece começar nas costas, na altura do rim esquerdo. Peguei os exames e fui a um urologista, que me tranquilizou em relação ao rim. Foi bom porque ele me receitou um medicamento mais potente para a dor, o Codaten, que tem codeína em sua fórmula. Esse medicamento tem me ajudado muito e colocou fim nas caminhadas noite a dentro. O problema é que é o tipo de medicamento que você não pode usar muito tempo porque vicia e também porque prejudica a saúde..

A injeção milagrosa e a médica torturadora
Em uma de minhas idas ao pronto-socorro por conta da dor, me aplicaram nubaína na veia. Nunca vi algo como aquilo. A enfermeira aplicou apenas meia dose e eu já fui ficando tonto, e a dor foi sumindo como num passe de mágica. Na segunda vez fui correndo ao hospital. Pensei eu: chego lá, me aplicam a tal da nubaína e adeus dor rapidinho. No hospital, depois da longa espera de sempre, ouço chamar meu nome. Quando cheguei no consultório, já fui falando pra médica aplicar a tal injeção milagrosa. Ela se recusou dizendo que a tal nubaína é viciante e que não prescreveria. E receitou os medicamentos que são de praxe nos casos de dor abdominal (buscopan e cia.). Foi noite de sofrimento. A dor não cedia e só lá pelas tantas a médica deu o braço a torcer e me aplicou a tal nubaína. Só que a infeliz inventou de aplicar na barriga. Hoje fico pensando que a sujeita deve ter pego umas aulas com algum torturador. Não dá pra entender uma coisa dessas. Se tem o medicamento pra dar um fim à dor, por que insistir com outros? É aquela história, pimenta naquilo dos outros é refresco.

Mas voltando ao problema
O fato de a dor não ter um ponto específico de origem me fez desconfiar de um possível problema de coluna. Fui então a um especialista e ele verificou que minha coluna está muito desalinhada, o que pode estar provocando a dor. Segundo o médico, muitas dores que parecem ter origem no estômago ou em problemas gastrointestinais são na verdade provocadas por problemas na coluna. É que a dor começa num ponto específico, mas depois se espalha, dando a impressão de que é de origem abdominal. E quando ela se espalha, meu amigo, minha amiga, não queira saber como é.

De fato minha coluna está pra lá de torta. Nas últimas em que joguei futebol, saía sempre com o tornozelo direito bem machucado. É que a ponta do pé esquerdo está batendo no tornozelo direito, tamanho o desalinhamento da coluna. Outro fator que me fez desconfiar da coluna diz respeito aos muitos anos em que tenho dormido sentado por conta dos problemas do refluxo. Não durmo deitado faz uns 5 anos. Se você passa o dia sentado no trabalho e depois passa a noite também sentado é natural que a coluna sinta as conseqüências. Estou muito otimista e já vou iniciar o tratamento com sessões que eu chamo de desamassamento. O médico chama de manipulação da coluna.

quinta-feira, 7 de novembro de 2013

Velhos sintomas, novas descobertas.

Notícia boa
Quase um ano sem publicar nada por aqui, não poderia aparecer sem trazer novidades. E elas são medicamentosas. Mas antes, uma boa notícia. Já relatei aqui que o medicamento mais eficaz para queimação, no meu caso específico, é o Prazol 30mg. O problema era a dificuldade de encontrá-lo na praça. A boa notícia é que uma grande rede de farmácias de minha cidade passou a vendê-lo, possibilitando sua aquisição. Mas claro que eu tive participação nisso. Como o medicamento sumiu da praça, eu entrei em contato com o laboratório que o fabrica, e o laboratório passou a fornecer para a rede de farmácias. O resultado é que agora posso comprá-lo mais facilmente.

Agora as novidades
Descobri alguns medicamentos que se mostraram muito bons no combate à queimação e como auxiliares no controle do enjoo: o Gaviscon, o Gaviz e a simeticona. O primeiro na forma de sachês líquidos, o segundo em forma de xarope e o terceiro em comprimido. Como já li que o uso frequente desses medicamentos pode trazer sérios prejuízos à saúde, procuro não usá-los diariamente, mas nos momentos de maior necessidade. O melhor de tudo é que com o uso do Prazol + Gaviscon + Gaviz + Simeticona e, eventualmente, quando o enjoo persiste, o Dramin B6, tenho conseguido alívio para os piores sintomas das minhas crises estomacais e consegui me livrar de vez da Bromoprida e os seus terríveis efeitos colaterais. Não estou no país das maravilhas, mas pelo menos tirei um pé do purgatório.

O Gaviscon e o Gaviz são eficientes no controle da queimação, com a vantagem de não conter açúcar. No meu caso essa vantagem conta muito porque o açúcar me faz muito mal. Se algum laboratório estiver lendo este post, quero deixar aqui a sugestão de não utilizarem o açúcar na formulação de antiácidos. O açúcar fermenta e faz aumentar o azedo do estômago. Portanto, o antiácido com açúcar acaba fazendo efeito contrário, ou, na melhor das hipóteses, não traz o alívio que se espera. Acontece também de você tomar o antiácido, sentir um alívio momentâneo, mas logo logo a azia está de volta. No caso do Gaviscon e do Gaviz o alívio é mais duradouro e acredito que isso esteja diretamente relacionado à ausência do açúcar.

A simeticona é uma substância muito boa para expulsar os gases e acabar com aquela sensação de que a barriga vai explodir. O processo é o seguinte: você toma os antiácidos com o estômago queimando e aí os gases tomam conta. Não sei o que acontece, mas a ação dos antiácidos no combate à queimação provoca o surgimento dos gases, a barriga dilata (cresce e fica meio enrijecida), muito parecido com a sensação que a gente sente quando enche a boca de ar, forçando as bochechas. Aí a digestão fica comprometida. Imagine um balão de aniversário cheio, com comida dentro. A comida não adere, fica solta dentro do balão. É essa a sensação que tenho, de que a comida fica solta no estômago, sem a ação dos ácidos digestivos sobre ela. Como a comida não é digerida, só existe uma saída e é para cima. Eu então tomo água para forçar o vômito. Só que não é aquele vômito com enjoo, cefaleia, que faz você desejar a morte como alívio. É algo mais agradável. Você arrota e a comida sai junto. Aí você vai esvaziando o conteúdo do estômago. Claro que eu tenho que estar em casa, não dá pra fazer isso no trabalho ou locais públicos. Você precisa ir ao banheiro algumas vezes. À medida que o estômago vai ficando vazio, o azedo vai diminuindo aos poucos e você começa a sentir movimentos no estômago (o ronco que a gente sente quando está com fome e há muito tempo sem comer). É o sinal de que há vida no estômago e aí as coisas vão melhorando até atingir uma normalidade.

No meu caso, há um ciclo. De segunda a quarta-feira eu passo bem. De quinta pra sexta, começam os sinais da crise no estômago. Aí passo por todo o processo que descrevi acima. Fico uns dois dias (sábado e domingo) tomando os medicamentos e esvaziando o estômago. Passada a crise, estou novinho em folha. Parece coisa de louco, mas acho que é algo metabólico, um processo que vai se desencadeando ao longo da semana.

Quando relato isso a um médico ele trata de me sugerir uma consulta com psicólogo ou então me receita um daqueles remédios tarja preta que você toma e começa a babar pelos cantos da boca, feito cachorro doido. O último médico que consultei me receitou um desses e fez a seguinte recomendação: “Não leia a bula. Você não vai ter coragem de tomar!”. Depois de ouvir isso é claro que não tomei.

Os médicos precisam entender que nem sempre a gastrite, queimação etc. são consequência do stress, do nervosismo e parar com essa história de enfiar calmante nas pessoas. Eu percebo que o meu humor varia muito, mas quase sempre o nervosismo é consequência dos problemas do estômago e não causa deles.


Na cabeça dos médicos o processo se dá assim: você se estressa, vem o nervosismo e com ele a queimação, a gastrite, a úlcera etc. No meu caso ocorre o inverso. Eu estou bem, surgem os males do estômago e eu fico de mau humor. Portanto, não é o emocional que me deixa com queimação, é a queimação que mexe com o emocional e traz o desequilíbrio. Tem dia que estou mais zen que o próprio Buda, e lá vem a queimação. Uma coisa não tem nada a ver com a outra. Só o aleijado sabe onde mais dói a muleta. E enquanto os médicos não caem na real, a gente vai se virando como pode, experimentando dietas e medicamentos.  

quarta-feira, 21 de novembro de 2012

Este é o prato que o restaurante da vida me serve


De volta depois de muito tempo. Sigo a minha sina de viver no meio de um fogo cruzado. De um lado a hipoglicemia, que me faz acordar todo dia com um maldito enjoo e aquela maravilhosa sensação de que vou morrer. Do outro lado os desatinos de um estômago que resolveu me pegar para Cristo e me fazer pagar por todos os pecados acumulados ao longo de minhas reencarnações. Queimação 24 horas e uma crise semanal que começa com uma cefaleia, dorzinha maldita que aparece sempre acima do olho esquerdo. Essa cefaleia é o sinal de que o que já está ruim vai ficar pior ainda. Com ela vem o enjoo, com o enjoo os vômitos, e de mãos dadas com os vômitos vem a diarreia. A situação fica cômica quando tenho que vomitar e cagar ao mesmo tempo. Outro dia, sentado no vaso sanitário, levantei-me muito depressa para vomitar e dei com a testa na torneira da pia do banheiro. A bunda borrada, a pia toda lambrecada e um galo na testa. Tem vez que depois de vomitar e cagar até a alma, a coisa melhora. Tem vez que só melhora quando vou para o hospital receber medicação na veia. Aí, minha gente, aquele tempo que passo com o soro entrando pela veia são minutos que passo no inferno. Um mal-estar lascado, uma irritabilidade do cão. Minha vontade é de sair gritando feito louco. Mas gritar pra quem? Gritar pra quê? Este é o prato que o restaurante da vida me serve. É o único que tem. E tenho que comê-lo tentando me consolar dizendo a mim mesmo: tem gente mais lascada do que eu neste mundo. E o pior é que tem. 

segunda-feira, 27 de fevereiro de 2012

Ô banco fuleiro, esse do Brasil.

Como disse, não quero fazer deste blog uma fonte de baixo astral e depressão. Por isso, vou tentando aqui e ali colocar um pouco de humor na tragédia que é carregar duas doenças crônicas. Dessa vez narro um apuro que passei na agência central do Banco do Brasil aqui em Uberlândia. Certa feita, estava no 3º ou 4º andar do prédio da agência. Pra variar, numa fila interminável. Quem frequenta o bb sabe como é. E eis que depois de uns sei lá quantos minutos de espera, o intestino começou a piar fino. Dali a pouco começou a engrossar a voz e, por fim, berrou de vez. E quem faz uso contínuo de Pantoprazol, omeprazol, lanzoprazol e similares sabe que quando o intestino dá de querer expulsar o cocô não tem jeito que dê jeito. Vem aquele gás empurrando tudo pra baixo. E aí é assim: se tem banheiro perto, sorte sua. Se não, arreie as calças ou vai borrá-la toda. Como eu sou expert nessas descargas intestinais, já suando, chamei o guarda: "Seu guarda, por favor, tem um banheiro que eu possa usar?". O guarda, num "nem te ligo" de dar inveja à Dama de Ferro, responde: "Aqui tem banheiro, mas é só pra funcionários, então segura a onda aí!". Eu sabia que o final seria trágico, mas ainda fiz um último esforço na tentativa de segurar, só que aí o intestino deu xilique de vez e, pra botar mais pressão, começou uma contagem regressiva. Sabe como é, né, aquele último gás que sai trazendo o aviso: "o próximo vem acompanhado de muita merda". Eu então voltei a interpelar o guarda: "pergunta pro pessoal aí se não liberam o banheiro, a coisa tá feia aqui, amigo" e fiz aquela cara do gatinho do Shrek. Nada.  O guarda fechou a cara e soltou: "se quiser se arriscar, no 1º andar tem um banheiro. Pede lá". Ótimo, pensei, saio correndo, procuro o guarda lá embaixo, troco um lero com ele e beleza, terei um vaso só pra mim. E a contagem regressiva a todo vapor. Como não deu pra pegar elevador (pra dizer a verdade, nem sei se lá tem. Se não tem wc, elevador muito menos. E vai que está em manutenção ou viajando pelos outros andares), saí correndo pela escada.  E dê-lhe dor de barriga, suor, contorcionismo pra segurar a onda. Finalmente chego ao 1º andar. Cadê o guarda, pelo amor de Deus, cadê o guarda? Opa, lá está ele. Por ironia, parecia que estava voltando do banheiro. De guarda é que não estava. Corro em direção ao guarda como o cego corre em direção a quem vai restituir sua visão, já pálido de tanto segurar. "Seu guarda, pelo amor de Deus, me deixa usar o banheiro. Tô no limite". E parti pra ignorância: "Se você não liberar, desço as calças e cago aqui mesmo!". Eu estava no meio da agência. Seria um espetáculo com público garantido (com direito a MG TV, Jornal Nacional etc.). Eu estava pálido e suando mais que tampa de marmita. Então pensei: de pena, ele vai pegar no meu braço e dizer: "me acompanhe até o banheiro". Ledo engano. O cara, numa frieza de assustar, disse, apontando o dedo: "tá vendo aquele cara lá? É gerente. Se ele autorizar, você pode usar o banheiro". Não acreditei. Eu cagando nas calças e o cara me manda pedir autorização ao gerente? Olho e vejo dois caras sentados em sua mesa e atendendo clientes. Eu pensei "que legal, enquanto o cara abre uma poupança, eu lambuzo a minha". Então entrei no meio do negócio e disse: "por favor, estou desesperado, vou cagar nas calças e o guarda me disse que você é que libera o banheiro". Bom, o leitor e amigo deve estar pensando: "o cara entrou em pânico, deu um pulo da mesa e foi correndo mostrar o banheiro". Se foi isso que o amigo pensou, eu digo mais uma vez: "ledo engano". O cara esticou o braço, apontou para o outro gerente e disse: "pede praquele cara lá, ó!". Como a tragédia depois de um certo ponto vira comédia, comecei a rir de mim mesmo naquela situação. E aí fica a pergunta: será que em cumprimento às regras de uma empresa, nós devemos deixar outro ser humano se lascar na nossa frente? Cadê a consciência dos caras? Tem cara que em nome de manter o emprego deixa a própria mãe cagar em público. Alguém duvida? Eu tenho pena de gente assim. E os bancos no Brasil são tudo filho-da-puta. Não cumprem a lei que determina o prazo máximo de espera do cliente, e a justiça além de cega, cruza os braços. Não faz nada. Ora, se o cara tem que ficar duas horas numa fila, pelo menos oferece um banheiro, cacete! Eu sei é que eu olhei pro guarda, que estava distante e ele entendendo que o cara havia autorizado, finalmente me chamou e apontou a direção do banheiro. Eu corri mais que o Usain Bolt nos 100 metros rasos. Dei aquela sentada no vaso e descarreguei geral. E bem fedido que era pra me vingar da disgramera daquele banco. Ô banco fuleiro, esse do Brasil. 

sábado, 25 de fevereiro de 2012

Não volte mais!

Dia 23/02/2012 foi um dos mais terríveis dias de minha vida. Depois de tirar sangue pela manhã para exames e fazer uma endoscopia, passei o resto do dia com o estômago hiperazedo. Resultado: dor de cabeça, mal-estar, enjoos, náuseas e, por fim, pronto-socorro. Como não quero que você passe mal nem adoeça lendo este blog, vou procurar narrar com menos sofrimento, mais levemente, a desgraceira que foi. Por volta das 20h cheguei à clínica onde tinha feito a endoscopia. Minha esposa havia ligado para a doutora, de quem sou paciente, e a mesma disse que queria me ver antes de me encaminhar para o pronto-socorro. E lá vou eu, já pedindo a Deus que mandasse a morte como alívio, passar por uma "consulta". A doutora me olhou, apertou a barriga, prescreveu remédios (aqueles de sempre, que nada resolvem), falou que a endoscopia foi ótima, que eu não tinha com que me preocupar, não tinha nada de mais grave (e eu morrendo) e me mandou para o pronto-socorro, onde, segundo ela, o Dr. responsável pelo plantão me receberia ao som da orquestra sinfônica de Berlim. Ótimo, pensei eu. Pelo menos vou chegar lá, me enfiarão logo numa maca e o soro na veia, eu apago e acordo novinho em folha. Ledo engano. O negócio é o seguinte, enquanto a ficha não fica pronta e a operadora de plano de saúde não autoriza, pode gemer, minha nega. Se tiveres que morrer, morrerás. A indicação de seu médico vale menos que dez centavos de real. Até me puseram pra dentro do pronto-socorro, me aprontaram uma maca, mas alívio pro meu sofrimento nem pensar. Fiquei uns 40 minutos com o Diabo sentado numa cadeira ao lado, olhando pra mim e cantando sua canção preferida. Um carinha, pra aumentar a desgraça, foi lá medir minha pressão. Certamente alguém deve ter dito "pelo menos mede a pressão do cara, vai que dá de morrer aqui dentro. Por falar nisso, quem foi o filho-da-puta que pôs esse cão sarnento pra dentro do pronto-socorro?". Pois eu digo quem foi: foi o segurança, com uma cara feia e contrariado pra burro. Por ele eu ia gemer lá na calçada. Nessa hora, minha gente, semo tudo indigente. Bom, mas enfim lá estava eu à espera da beneplacência da operadora de saúde. Se ela dá pra trás, aí sim eu tava ferrado de vez. Então parei de rogar a Deus a morte, porque pelo risinho sádico do Cão eu vi que não morreria, passei a rogar à operadora de saúde. Rezei, rezei, rezei. Pimba! Eis que o Dr., com aquela calma de sempre, depois de já ter estado comigo umas 3 vezes dizendo "já já te atendo", vem com a medicação. 
E aí eu queria entender certas coisas que não dá pra entender. Se o nome do troço é pronto-socorro, não deveria haver lá um prontoatendimento? As pessoas não deveriam ser recolhidas de imediato e medicadas? Na verdade, o hospital trata a gente como objeto de um negócio que ele tem com a operadora de plano de saúde. As operadoras pagam para que o hospital nos atenda. Então tudo se resume numa questão: "quem é que vai pagar a conta?" Como é a operadora que paga, enquanto o médico não tem o sim dela você fica lá na fila de espera, que começa com a retirada de uma senha saída de uma máquina. Bacana, você morrendo pega uma  senha com 4 mil pessoas na frente. Um absurdo isso. Cadê a tão propagandeada humanização do atendimento? O desespero é tão grande que acontece de a pessoa chegar no médico já curada. Esperou tanto, sofreu tanto que quando o médico pergunta "o que o senhor tem?", o cara diz: "nada, doutor, me sinto ótimo". Tá rindo né? Mas isso já aconteceu comigo. A espera, ou melhor, a agonia me curou. E há casos em que a pessoa simplemente se levanta do banco (banco uma ova, uma cadeira horrível sem conforto nenhum) e vai pra casa. Duvideodó que o filho do médico diretor do hospital passe pelo pronto-socorro do hospital que ele dirige. Pra fazer justiça, deveriam corrigir a inscrição 'pronto-socorro', que está na fachada, pela frase de ordem "não volte mais aqui!". Porque naquele pronto-socorro onde estive não volto nunca mais. Morro, mas não volto. Palavra de escoteiro!

segunda-feira, 20 de fevereiro de 2012

Hipoglicemia. Como descobri que tinha.

Hipoglicemia crônica
A obrigação da comida

Tudo começou com sintomas que passei a sentir quando jogava futebol. Em alguns jogos parecia que o equilíbrio do corpo não estava legal. Os reflexos ficavam comprometidos e eu não conseguia fixar muito bem a vista. Era como se eu estivesse meio fora do ar, meio fora de sintonia. Em jogos de futebol de salão, às vezes ia pisar sobre a bola para dominá-la e ela passava sob meu pé. Isso me mostrou que também a noção de distância estava ficando comprometida juntamente com os reflexos e a coordenação motora. Não tardou a aparecerem sintomas mais evidentes da hipoglicemia. No horário do almoço, eu ia para casa caminhando, e havia dias em que sentia a pressão cair e suava de molhar toda a camisa. Junto com isso batia uma fome fora do comum. Uma vontade de comer um boi inteiro. Então resolvi consultar meu médico de confiança, e ele decretou: você sofre de hipoglicemia. Muito provavelmente seu organismo não tem a enzima que é responsável pela quebra do açúcar antes de a mesma ser transportada para o sangue. Esse diagnóstico veio porque não se tratava de uma crise de hipoglicemia eventual, o que é comum e pode ocorrer com qualquer pessoa, mas de sintomas frequentes. Isto é, não se tratava de um episódio de hipoglicemia, o fato é que eu sofro do mal de forma permanente ou crônica.
E junto com o diagnóstico veio a dieta: alimentação de 3 em 3 horas, com preferência para alimentos ricos em carboidrato. Disse o médico que para o meu caso o açúcar deveria ser abolido da alimentação. Explicou que no caso de a glicose estar muita baixa, a ingestão do açúcar pode fazer com que a glicose suba de forma muita rápida, o que pode causar um choque de graves consequências ou levar a um terrível mal-estar. E de fato, se me alimento do açúcar ou como qualquer alimento muito adocicado, o mal-estar é imediato. Se faço isso durante a crise de hipoglicemia, o mal-estar é pior ainda.
A dieta para o meu caso consiste na ingestão de alimentos ricos em carboidrato (pão, bolacha, arroz, macarrão, batata etc.). Isso porque o carboidrato, após digerido pelo organismo, se transforma em açúcar. Como essa transformação é lenta, o açúcar chega ao sangue sem causar mal-estar. Isto é, eu me alimento do açúcar de forma indireta. Isso vale para as frutas. Tenho que dar preferência para aquelas menos adocicadas. Banana, por exemplo, não posso comer se não for durante as refeições (durante o almoço ou jantar). Se como ela sem acompanhamento, tenho problemas. Orientou-me o médico que de preferência devo comer frutas (maçã, ameixa, pêssego etc.) sem descascar porque a casca torna a digestão mais lenta, o que para mim é vantajoso.
Não sofro tanto com os sintomas da hipoglicemia porque sigo a risco a dieta. E também não há como não seguir. Se eu fico sem comer por 3 horas e meia a 4 horas, o bicho pega. O mais chato de tudo isso é que você fica na obrigação de comer, o que interfere significativamente na sua vida. Se vai sair tem sempre que levar algo pra comer. Se está no meio de uma reunião, tem que sair pra se alimentar. Se está no meio de uma atividade legal, tem que abandonar pra se alimentar. Isso vai transformando sua vida social num inferninho. A hipoglicemia passa a controlar você. É sua senhora, e você o escravo.   

Se o escravo desobedece à senhora e fica muito tempo sem se alimentar, tem início o mal-estar. Primeiro a sensação de que algo está apertando minha cabeça, depois uma sensação de formigamento nos lábios, palidez, a pressão despenca e dá-lhe suor. A camisa fica toda molhada. Nessa hora vem um apetite de comer um boi inteiro. Mas se não me alimento nessa hora, daí a pouco começo a ter um princípio de enjôo, o apetite vai embora e tenho que comer na marra.